Exhibition / Experimental
Aos Vivos
Festival Continuum 2016

A cultura digital e virtual da internet, das redes sociais e do compartilhamento de fotos e vídeos hoje em dia nos leva a outro patamar de relação social. Há 20 anos atrás, pouco (ou quase nada) se acompanhava da vida das pessoas comuns, dos típicos cidadãos que não estavam nos holofotes da mídia. O que era antes os nossos “15 minutos de fama”, hoje se tornou algo acessível e possível a todos, graças a massificação do compartilhamento de momentos íntimos e pessoais para uma rede absurdamente abrangente no mundo todo.

Essa cultura do compartilhamento se tornou uma nova forma de diário, de registro do cotidiano, mas também se transformou em um novo canal de informação, entretenimento e compartilhamento de conhecimento e opiniões. Cada um usa da forma como quer. Pastores de igreja, hackers, consultores, professores, médicos, instrutores e etc, utilizam para propagar suas ideias e conhecimentos. Adolescentes, jovens e adultos revelam parte de suas rotinas, suas intimidades e atitudes. Para quem não acompanha essas mudanças de comportamento online, parece que ninguém mais se importa com a privacidade e segurança, muito menos com quem está acompanhando isso tudo do outro lado da tela.







Imaginária criou uma peça para a exposição do Festival Continuum, que aconteceu dos dias 16 ao 29, na Torre Malakoff em Recife. O tema era “Privacidade” e o festival abriu edital para inscrições de obras inéditas. A peça que enviamos se chamava “Aos Vivos” e se baseava no compartilhamento de streaming pelo aplicativo Periscope do Twitter. Duas telas lado a lado projetadas na parede mostravam streams do mundo todo, com intervalos de 10 segundo cada, alternando constantemente. A cada 10 transmissões, um stream ao vivo da sala da obra era projetado revelando o público que assistia e incluindo ele na obra. Essas transmissões eram feitas pelo Youtube e ficaram gravadas.

A obra apresenta um novo paradigma (ao menos pra mim e alguns visitantes) onde as pessoas se exibem, interagem e se expõem de formas distintas, cada um com suas limitações e propósitos. Tudo ao vivo, sem cortes ou edição. É a vida acontecendo naquele momento em algum canto do mundo. Gente dirigindo pela cidade, pessoas tirando a roupa, consultores de investimento respondendo dúvidas, pastores pregando a palavra, músicos se apresentando, pessoas comendo, cantando, fumando maconha, conversando superficialidade, falando da vida delas. Muitos esteriótipos, muitos padrões e muita gente igual, mas ao mesmo tempo diferente. Todos em busca de quê? Qual o sentido disso tudo? Seria essa uma maneira de se sentir vivo, de mostrar que está vivo? Ou apenas mais uma forma de comunicação sem filtro de recipiente, sem controle de audiência e exposto a todo e qualquer resultado?

O que vi foram pessoas necessitadas de atenção, de reciprocidade e audiência. Pessoas tímidas e extrovertidas convergidas em um universo único, onde todos podem se expressar e serem ouvidos. Mas até que ponto isso é positivo? E que mudanças nas relações e comportamentos sociais isso acarretará? A imagem de uma pessoa andando na rua interagindo com um celular já é algo comum e acho que estamos vivendo uma transferência de abraços e diálogos reais por likes e coraçõezinhos virtuais que assusta qualquer um que não nasceu imerso nessa era virtual.​​​​​​​



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In 2016, we were selected to a Festival with "Aos Vivos" project. "Aos Vivos" is a ambiguous reference to "live signs from radios" and "to the li Read More

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